Relatos de testemunhas de tragédia no RS realçam perguntas a responder

28-01-2013 08:21

O incêndio que atingiu a Boate Kiss, na madrugada deste domingo (27), resultou na morte de mais de 230 pessoas em Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul.

Ao longo do dia, G1, GloboNews, TV Globo e RBS ouviram dezenas de relatos dos sobreviventes (assista no vídeo ao lado à reportagem do Fantástico sobre as mortes).

Leia a seguir uma reconstituição de momentos-chave da tragédia – hora do show, início do incêndio, tumulto dentro do prédio com apenas uma saída e resgate das vítimas – e saiba que perguntas ainda precisam ser respondidas pelas autoridades.

show_boate_rs (Foto: Editoria de Arte / G1)

A festa "Agromerados": Foi organizada por alunos dos cursos de agronomia, pedagogia, zootecnia, medicina veterinária, técnico em agronegócio e técnico em alimentos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Com ingressos a R$ 15 e classificação etária de 18 anos, teve grande divulgação e venda de entrada antecipada.

Atrações: No evento estavam programadas as apresentações das bandas Pimenta e seus Comparsas e Gurizada Fandangueira, além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.

Início: O público começou a chegar perto da meia-noite. Por volta da 1h, o grupo Pimenta e seus Comparsas subiu ao palco, de acordo com o líder da banda, Valderson Wottrich. A apresentação durou pouco mais de uma hora, terminando perto das 2h10. Em seguida, a Gurizada Fandangueira, que é de Santa Maria e se apresentava na boate pelo menos uma vez por mês, começou a tocar.

PERGUNTA A RESPONDER: A boate tinha os alvarás necessários para funcionar?
Por meio dos seus advogados, a direção da Boate Kiss classificou o ocorrido como uma "fatalidade" e disse que está em "situação regular, contando com todos os equipamentos previsíveis e necessários  para o sistema de proteção e combate contra o incêndio, aprovado pelo Corpo de Bombeiros, adequado às necessidades da casa e de seus freqüentadores".

 

Na manhã seguinte à tragédia, no entanto, o comandante do Corpo de Bombeiros da Região Central do Rio Grande do Sul, tenente-coronel Moisés da Silva Fuch, disse que o alvará de funcionamento da boate estava vencido desde agosto do ano passado. "Está vencido desde agosto. O alvará é necessário para o funcionamento da casa na sua normalidade", disse ao G1, destacando que o documento serve para atestar as condições de prevenção e combate a incêndios.

De acordo com o subcomandante-geral da Brigada Militar, coronel Altair de Freitas Cunha, as condições de prevenção contra incêndio da casa serão apuradas. "Recebemos alguns relatos de que os seguranças teriam barrado as pessoas até que elas pagassem a conta [...] Também estamos apurando o que provocou o incêndio e as condições de prevenção da casa."

O prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, disse à GloboNews que os documentos estariam regulares, conforme atestado pelos bombeiros. Ele afirmou, no entanto, que é preciso investigar as autorizações.

O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, disse que o proprietário da casa deve se pronunciar oficialmente e apresentar todos os documentos. "Falar agora em culpa de alguém é uma falta de respeito ao trabalho que vem sendo feito. O faremos de maneira responsável. Hoje já vai ser ouvido o dono da boate. Ele terá que apresentar todos os documentos."

 

incendio_boate (Foto: Editoria de Arte / G1)
 

Origem do fogo: Durante a música "Amor de chocolate", do cantor Naldo, a banda utilizou dispositivos pirotécnicos como efeito visual. De acordo com baterista Eliel de Lima, a equipe técnica do grupo é responsável por controlar o espetáculo, comum nos shows e que "nunca deu problema".

O guitarrista do grupo, Rodrigo Martins, disse que o efeito especial durava quatro minutos, com faíscas do equipamento chamado "sputnik" sendo lançadas para cima. Ele afirmou que somente no início da música seguinte o incêndio foi percebido e defendeu que o fogo tenha começado devido a um curto-circuito nos fios do telhado da boate.

Segundo o estudante Murilo Tiecher e a fotógrafa Fernanda Bona, no entanto, o vocalista da banda teria acendido uma espécie de sinalizador. As faíscas teriam atingido o teto da boate e dado início ao fogo, que se alastrou rapidamente devido ao material usado para o isolamento acústico.

Pedido de socorro: De acordo com o major Cléberson Bastianello, o Corpo de Bombeiros foi acionado por volta das 2h30, pouco depois do início do incêndio.

Problema com o extintor: Segundo Rodrigo Moura, um dos vigilantes que trabalhavam na madrugada da tragédia, alguns seguranças tentaram apagar as chamas no teto da boate com extintores, mas o fogo tomou conta do local rapidamente, matando inclusive alguns de seus colegas.

Segundo o guitarrista do grupo Gurizada Fandangueira, Rodrigo Martins, um segurança e o próprio vocalista tentaram operar o equipamento, que não funcionou. "O segurança tentou usar o extintor, mas não funcionou. Ficamos desesperados. O cantor também tentou e não saía nada", disse em entrevista à Rádio Gaúcha.

O baterista Eliel de Lima relatou o mesmo problema. "Um segurança chegou com um extintor de incêndio, tentou apagar o fogo, mas o extintor não funcionou."

O estudante Murilo Tiecher disse que não sabia se o extintor não havia funcionado ou se os seguranças não souberam manuseá-lo de maneira adequada.

 

PERGUNTA A RESPONDER: Quantas pessoas estavam no local na hora do fogo?
O número de total de pessoas que estavam no interior da boate Kiss no momento em que o incêndio começou ainda é desconhecido. Segundo informações da própria casa noturna, a capacidade máxima é para mil clientes.

De acordo com o delegado Sandro Meinerz, que é responsável pela perícia, informações coletadas pelas equipes de investigação dão conta de que o público na hora da tragédia era de aproximadamente mil pessoas. O Corpo de Bombeiros, no entanto, estima que o número era maior, perto de 1,5 mil.

 

Fonte: G1: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2013/01/relatos-de-testemunhas-de-tragedia-no-rs-realcam-perguntas-responder.html

 

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